Independência ou morte
Tem uma série de coisas que a gente deseja na vida: uma
profissão que nos realize, uma intensa vida afetiva, viagens, amigos,
descobertas. Mas se eu tivesse que resumir em uma única palavra o que considero
a mais importante conquista, esta palavra seria independência.
Começou a contagem regressiva para o 7 de setembro, dia
em que se comemora a independência do Brasil. No entanto, prefiro comemorar a
minha, a sua, a nossa.
Não há quem não sonhe em trabalhar por conta própria,
ser patrão de si mesmo. Os que conseguem não trocam por nada. Como conseguir
isso? Dominando um ofício, indo além do que os outros aprenderam, fazendo as
coisas do seu próprio jeito, arriscando. Parece difícil, e é. E mais difícil
ainda é ser independente no amor.
Paixão não entra nessa conversa. Quando estamos
apaixonados somos todos dependentes de telefonemas, de e-mails, de declarações,
de presença constante. Já o amor, que é um estágio posterior, mais sereno e
seguro que a paixão, permite o desenvolvimento da independência. Você não
precisa estar em todos os lugares que o seu amor está, você não precisa
concordar com tudo o que ele pensa, você não precisa abdicar dos seus projetos,
você se sustenta, você conta, você existe.
Tem gente que abre mão disso por puro comodismo. Prefere
ser uma sombra, um sparing . Defende-se dizendo que não tem outro jeito.
Mentira. É uma escolha.
Ir sozinha ao cinema. Viajar. Pagar sua dívidas.
Dirigir. Não afligir-se (tanto) com a opinião alheia. Saber cozinhar pra si
mesmo, entreter-se com hábitos solitários como a leitura, pegar um táxi,
resolver os próprios problemas, tomar decisões com confiança. Não “precisar”
dos outros, e sim contar com os outros para aquilo em que eles são
insubstituíveis: companhia, sexo, risadas, amizade, conforto.
Se você ainda não atingiu este estágio, suba num cavalo
imaginário e dê seu grito do Ipiranga. Ficar amarrado à vida alheia faz você
viver menos a sua. Nada de fazer-se de desentendida só para não se incomodar.
Incomode-se. Dependência é morte.
Do livro Coisas da Vida - Crônicas - Martha Medeiros
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